Domingos Araújo – “Domingos dos Barquinhos”.

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Na tarde ensolarada e quente da cidade de Mongaguá, Litoral de São Paulo, seu Domingos recebeu a equipe de reportagem na porta de sua humilde oficina. Com um largo sorriso, ele nos convidou para entrar e conhecer seu trabalho.

Talhando a base de um barquinho, o idoso se equilibrava em um banquinho improvisado com ripas, enquanto conversava.

Beirando seus quase 90 anos, Domingos Araújo ou seu Domingos, como prefere ser chamado, desperta a atenção daqueles que passam diariamente pelo viaduto do Bairro Pedreira, em Mongaguá. Há quarenta anos trabalha com artesanatos em uma oficina improvisada na entrada do bairro.

A disposição para manter-se ativo, segundo ele, vem da alegria de poder fazer o que gosta. Com a voz e o corpo um pouco trêmulos, ele se diverte conversando sobre seu trabalho. “É neste espacinho que eu consegui minhas coisinhas. Não tenho luxos, mas consigo pagar as contas, passear e dar um pouco de conforto para minha família”. Filho de pescadores, o caiçara levou adiante a profissão do pai. Com trinta anos, já cansado de viver no mar, ele resolveu mudar de profissão.

Era março de 1970 quando o bairro da Pedreira ganhou seu Domingos. “Muitas casas de veraneios e colônias de férias estavam sendo construídas. Com o turismo crescendo, o artesanato ganhava espaço na região. Foi então que eu decidi montar a oficina. Escolhi a entrada do bairro para instalar o barracão porque este espaço era mais movimentado”. E daqui não saiu mais.

Na oficina ele produz barcos, miniaturas e chaveirinhos. Da lá pra cá, muitas mudanças ocorreram na cidade. “Aqui não tinha quase nada. Essa rodovia (Rodovia Padre Manoel da Nóbrega) ainda estava sendo concluída. Muita coisa mudou e continua mudando. A Avenida Marina (avenida principal do centro da cidade) não tinha muitos comércios e daqui dava para ver o mar”, conta, segurando um de seus barquinhos nas mãos.

Para fabricar o artesanato, ele percorre a cidade em busca de madeira. “Eu ando por aí, procurando caixas e ripas. Também conto com a ajuda de alguns comerciantes que doam as caixas de madeira que sobram. Isso ajuda muito”. Trabalhando de segunda a sábado, seu Domingos tira apenas o domingo para relaxar com a esposa, mas alguns vizinhos informaram que já o viram trabalhando aos domingos. “Eu sou patrão e empregado de mim mesmo. Se houver necessidade de trabalhar em um domingo, eu trabalho e com muito ‘gosto’. Meu prazer é sentir que estou produzindo. Eu sei que às vezes o meu corpo me deixa na mão, mas ainda tenho condições de tocar as coisas. Quando me embrenho com a criatividade eu sinto que estou vivo e isso me dá força para nunca parar”.

* Por: Tatyane Brito.

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Sobre o Autor

Prof. Alex

Alex Marcelo é professor do Centro Paula Souza, torcedor do Santos FC e pai da Tatá.

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